Há 22 anos, Antonio Carlos Dolacio atua no ramo de Avaliações e Perícias de Engenharia. Formado, em 1995, em engenharia civil pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie, na capital paulista, ele se diz apaixonado pela profissão e criou a empresa Associados CLD Engenharia, que presta assessoria na área de avaliações e perícias técnicas, junto a grandes empresas, escritórios de advocacia, construtoras e incorporadoras, administradoras de condomínios, bem como auxiliando o Poder Judiciário.
Aos 50 anos de idade, casado há 19 anos e pai de dois filhos, ele reforça que a área necessita de profissionais que se atualizem constantemente e garante que o campo de atuação é cada vez maior. O segmento profissional, em sua origem, tem a Justiça de Estado seu principal foco de atuação. Todavia, como informa a entidade nacional que reúne milhares de engenheiros e arquitetos, o Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape), esse profissional atua nos mercados imobiliário e financeiro, na consolidação patrimonial de empresas, nas arbitragens e em diversos outros segmentos da economia.
A engenharia de avaliações e perícias é um campo diversificado. É uma modalidade que tem uma vertente multidisciplinar muito forte que abrange desde aspectos legais relacionados às avaliações e perícias; redação de laudos periciais; inferência estatística aplicada às avaliações e perícias e engenharia econômica.
É com a trajetória de Dolacio – que é membro titular do Ibape, seção de São Paulo – que homenageamos todos os profissionais da área no Dia do Engenheiro de Avaliações e Perícias de Engenharia, comemorado neste 12 de dezembro.
Como o senhor escolheu a engenharia como sua profissão? Teve alguma influência familiar ou outra?
Venho de uma família praticamente composta por advogados e apreciadores do Direito. Quando criança, em um aniversário, ganhei de presente um brinquedo que se chamava “Brincando de Engenheiro”. Eram blocos que imitavam paredes e telhados. E aí começou a paixão por construir, e que, um pouco mais tarde, virou amor pela engenharia. Desde muito pequeno, quando me perguntavam o que queria ser quando crescer, respondia imediatamente: engenheiro!
Como foi o início da carreira como engenheiro e como se especializou em Avaliador e Perito de Engenharia?
Quando estava no segundo semestre do curso de engenharia surgiu uma oportunidade para realização de estágio em uma construtora, em obra, que abracei de imediato. Permaneci estagiando em obra durante todo o curso de engenharia, mas sempre ouvindo de meus familiares advogados, se eu não gostaria de trabalhar com perícias. Isso me levou a realmente buscar informações a respeito da atividade e campo de trabalho na área das Perícias de Engenharia.
Para minha surpresa, logo após a minha formatura, aos 23 anos de idade, um colega da engenharia me mandou um prospecto a respeito do primeiro curso em São Paulo, de pós-graduação em Perícias de Engenharia e Avaliações, fruto de uma parceria feita, à época, entre o Ibape-SP e a FAAP [Fundação Armando Alvares Penteado]. Mal tinha saído de uma sala de aulas e, quando me dei conta, já estava entrando em outra! Nunca imaginei que fosse me identificar mais com as perícias do que com a construção propriamente dita, mas isso aconteceu. Quando terminei a pós, em junho de 1997, montei um escritório de perícias com mais dois colegas, me associei ao Ibape/SP, e desde então tem sido um aprendizado constante.
A engenharia de avaliações e perícias é um campo diversificado, podemos dizer que ela tem uma vertente multidisciplinar muito forte principalmente com a área do Direito?
Sim, com certeza a engenharia de avaliações e perícias tem uma vertente multidisciplinar, e caminha, em muitas de suas áreas de atuação, lado a lado com o Direito. Pouco se houve falar sobre o campo das perícias no curso de graduação de engenharia. Por isso, considero imprescindível que os profissionais que pretendem atuar com perícias e avaliações, fazerem cursos de especialização e/ou de extensão.
Destaco, também, a importância de se aproximar de entidades que congreguem os profissionais da área. Isso viabiliza a troca de experiências, o que contribui com o aprimoramento profissional. A exemplo disso, o Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia, de São Paulo, oferece aos seus associados e interessados, além de cursos e eventos técnicos, as reuniões de suas Câmaras Técnicas – de Avaliações, Inspeção Predial, Perícias, Ambiental e Engenharia de Segurança –, ambiente este onde se travam discussões de elevadíssimo nível técnico, para desenvolvimento de textos normativos, estudos etc., que indubitavelmente trazem reciclagem de conhecimento aos seus participantes.
O segmento profissional tem como origem principal a atuação na Justiça de Estado? E hoje tem um campo maior de atuação que vai desde os mercados imobiliário e financeiro, consolidação patrimonial das empresas, arbitragens e em diversos outros segmentos da economia?
É isso mesmo. Hoje a área de atuação das perícias de engenharia e avaliações extrapola, em muito, a campo das já conhecidas “perícias judiciais” – em que os profissionais podem atuar como peritos do Juízo ou ainda como assistentes técnicos das partes.
A atuação extrajudicial é muita vasta, contemplando, por exemplo, trabalhos técnicos de auditoria e consultoria na área da construção civil, e de gestão de uso, operação e manutenção de edificações, estudos de viabilidade econômico financeira (para empreendimentos), resolução de conflitos extrajudiciais (em arbitragem e mediações), trabalhos avaliatórios em geral (de cunho administrativos) etc..
Para atuar na área, é obrigatório ter alguma pós-graduação específica a exemplo do que ocorre com a Engenharia de Segurança do Trabalho? Embora não seja obrigatória, defendo a necessidade da realização de um curso de pós-graduação em perícias de engenharia e avaliações. Estamos falando de uma área cuja atuação é muito específica da engenharia e arquitetura, cujos particulares da atividade não são apresentados nos cursos regulares de graduação. Nesse sentido, reforço ser imprescindível que o profissional que pretende se estabelecer no segmento passe por essa etapa do aprendizado com a especialização, o que hoje, inclusive, já é cobrado, indiretamente, pelo próprio mercado de trabalho. E não para por aí. O conhecimento técnico deve passar, sempre, por reciclagens, de forma a acompanhar a evolução técnica experimentada, que, aliás, está sempre em constante evolução. Esta reciclagem se dá, por exemplo, participando de eventos técnicos – congressos, workshops, seminários – e grupos de discussão técnica, cursos de extensão e aprimoramento profissional etc..
E como as competências comportamentais também são importantes nessa atuação?
É fato que a disputa pelo mercado de trabalho tem se mostrado cada vez mais acirrada. E, em se tratando do mercado de perícias e avaliações, não há como entrar nesta briga, por um lugar ao sol, sem a bagagem de conhecimento técnico necessário, e devidamente atualizado, assim como também não podem ser esquecidas as competências comportamentais que se esperam do profissional que atuará na área. Relacionamento interpessoal efetivo, capacidade de negociação e adaptação, domínio sobre a comunicação efetiva, verbal e por escrito, ser minucioso e dar importância aos detalhes, retratam algumas das características que o profissional deve buscar reunir para atuar na área e que, de fato, são vistas como diferenciais pelos contratantes.
Por fim, o que o senhor gosta de fazer além da profissão?
Tenho como hobby a prática da atividade física. Nunca tive muita coordenação para esportes coletivos, mas não abro mão de praticar alguma atividade física. Qualquer uma. Caminhar, correr, nadar. Preciso daquele momento em que meu corpo está trabalhando, mas minha cabeça não. Funciona como uma higiene mental, aqui digo: Mens sana in corpore sano [citação latina]. E se faço isso na companhia da minha família e amigos, então, estou no paraíso.
Neste ano tão atípico, em que enfrentamos tantas dificuldades, em que perdemos pessoas queridas, e em que fomos obrigados a permanecer reclusos por um tempo, e a nos distanciar das pessoas com quem nos relacionamos, acho que todos acabamos aprendendo a conciliar melhor “trabalho” e “família”. Trata-se de grande aprendizado, e do qual pretendo me lembrar, ou ser lembrado, sempre!
Fonte: Rosângela Ribeiro Gil (SEESP - Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo)
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